Cortina Grega
Naquele palco enorme,
minha voz invade todos os cantos daquele teatro e do Teatro.
A cortina, veludo vermelho sangue,
se abre para que minhas distintas retinas deslumbrem-se
com os horizontes verticais de tragédia e luz.
Luz...
Imaterialmente sóbria
imponente mãe de idéias
imponente e celeste
azul...
A cortina grega do palco gigante-lácteo
é tímida.
É fato fátuo.
É carne tingida de sonhos.
Uma cortina.
Ainda fechada, grande parede carmim.
Quando aberta, Grande Dama dos destinos.
E o teatro se enfeita de tulipas e gente.
O Teatro é o nosso grande universo,
ainda que longínquo,
ainda que gentil...
Os atores nus,
corpos contorcidos em falas e emoções,
desesperam-se dantescamante quando a Grande Dama se fecha.
Gritam com os olhos embotados de almas salgadas
enquanto suas mãos desfalecem pelo medo do abandono.
Mas a Grande Dama se abre,
abrirá sempre,
para que os corpos nus possam ser Duncan,
para que possam ser Gregos,
para que possam ser Rodrigues,
para que possam ser o teatro,
para que possam ser O Teatro: O Grande Deus.
O Grande Deus protegido pela Grande Dama.
A cortina grega triunfa,
carmim e sangue.
Em êxtase, o mundo aplaude.
Fecha-se o pano...
Silêncio.