Descolorir

Temi pela ausência das cores;

Cores que sempre aquarelaram meus olhos,

Fizeram-me enxergar a matiz de um mundo azul,

Pintado com cores fortes e marcantes.

As cores variavam-se diante de mim,

Mas sempre cintilavam um brilho etéreo e perene;

Em todos os cantos

Espalhavam-se os tons vibrantes;

Respirando a primavera

E sombreando os desenhos rabiscados;

Insistiam em acortinar-me a palidez do sol;

Vi, de soslaio, a paleta cair e fazer uma só cor.

Qual um retrato antigo

Enxerguei o mundo ao meu redor ao descerro dos olhos.

Em tom de sépia incursei desconfiado;

Tudo era novo:

Novos odores, novos sabores;

Novas paixões, novas dores...

Quase tudo era desconhecido,

E quase sempre frustrante.

Haviam subtraído o calor do vermelho,

Não mais havia a tranqüilidade do azul,

A imponência esverdeada corria ladeira abaixo

E até mesmo a neutralidade amarelada

Era presente apenas na furtividade da minha memória.

Lentamente percebi ressecarem-se as folhas

Em plena primavera;

Entretanto minhas lembranças traíam-me

E me faziam parecer uma tela empoeirada

Abandonada à própria sorte;

Empalidecendo dia após dia.

Deve o tempo ter ficado mudo,

Ou meus olhos calejados,

Pois o cinza que me abraçou acalentando-me

Fez as ruas similares

E todas as horas partes do mesmo dia.

Mas enquanto houver-me voz

Chegará aos ouvidos acomodados

A notícia de novas cores no mundo,

E a descoberta de novos tons em degrade.

E se ela me faltar

Esparramo a tinta pelo chão,

Nem que seja com meus olhos vermelhos.

Valter Pereira
Enviado por Valter Pereira em 22/08/2008
Código do texto: T1140188
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