Tempo do contratempo

Entre os desencontros,

pássaros fazem seus ninhos nos escombros

dos quadros pintados sem encantos

que pelos cantos apodrecem em pó.

Vidas desfeitas em promessas esquecidas,

pronuncias empobrecidas, abandonadas,

jazem em breu no tempo passado, atado ao nada.

Pobre alma desfalecida que um dia

no sonho e na fé foi mantida,

hoje vive seus dias na angustia

dos que se descobrem tão só.

Deserto árido, esperança escassa,

no antigo altar a vela se apaga

e a fumaça desenha a dor

de um coração que não encontra saída.

Corre a noite e da noite faz seu templo

deitando a alma em desalento,

o que lhe resta fora o lamento

de não ter na lembrança mais a cor do novo dia?

Chora em silêncio, sem buscas, sem esperas,

apenas deita o velho corpo ao relento,

na mente o vazio, nenhum pensamento,

tudo se foi sem anuncio de partida...

Para tanto, continuam os pássaros

construindo seus ninhos nos escombros,

restos humanos desbotados nas telas

pendentes pelas paredes desfeitas

relatam a história de uma época

em que os homens plantavam seus sonhos

onde o egoísmo cultivou a morte

que hoje impede a vida de ser refeita.

Aisha
Enviado por Aisha em 21/08/2008
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