Tempo do contratempo
Entre os desencontros,
pássaros fazem seus ninhos nos escombros
dos quadros pintados sem encantos
que pelos cantos apodrecem em pó.
Vidas desfeitas em promessas esquecidas,
pronuncias empobrecidas, abandonadas,
jazem em breu no tempo passado, atado ao nada.
Pobre alma desfalecida que um dia
no sonho e na fé foi mantida,
hoje vive seus dias na angustia
dos que se descobrem tão só.
Deserto árido, esperança escassa,
no antigo altar a vela se apaga
e a fumaça desenha a dor
de um coração que não encontra saída.
Corre a noite e da noite faz seu templo
deitando a alma em desalento,
o que lhe resta fora o lamento
de não ter na lembrança mais a cor do novo dia?
Chora em silêncio, sem buscas, sem esperas,
apenas deita o velho corpo ao relento,
na mente o vazio, nenhum pensamento,
tudo se foi sem anuncio de partida...
Para tanto, continuam os pássaros
construindo seus ninhos nos escombros,
restos humanos desbotados nas telas
pendentes pelas paredes desfeitas
relatam a história de uma época
em que os homens plantavam seus sonhos
onde o egoísmo cultivou a morte
que hoje impede a vida de ser refeita.