A procissão do samba

- O ocorrido que narro-lhe agora

É apenas mais uma história

De uma noite de samba sem glória,

De um dia em que o samba calou

O sino da igreja tocou,

O padre então se benzeu,

A rua o povo lotou,

E a procissão com pesar sucedeu.

No meio de tanta gente,

Que sequer sabe o que aconteceu,

A viúva sussurra um grito penitente

Murmúrio renitente

Arrependimento que lhe acometeu.

De preto agachada sentiu

Junto a si quem no escuro esfriou,

Na noite calada a distância suprimiu,

E o filho fugido à sua mãe abraçou.

Como quem não quer acatar o ocorrido,

A manhã se arrastando lentamente chegou,

Varrendo pra longe de alguns a agonia

Que na noite escura ao vazio atracou.

Uma injustiça na cidade foi feita,

E com o pulsar de sua vida o pobre homem pagou,

A inocência, o sonho, a evasão de uma vida,

Mero castelo de areia

Que com a desilusão desabou

A história que os vizinhos guardam na memória,

Não conta com honras o sambista da Glória

Que entre enredos, saias e goles de histórias

Em uma discussão, na mesa do bar

Com o samba calou...

Lucas Sidrim
Enviado por Lucas Sidrim em 20/08/2008
Reeditado em 28/11/2011
Código do texto: T1138283