A procissão do samba
- O ocorrido que narro-lhe agora
É apenas mais uma história
De uma noite de samba sem glória,
De um dia em que o samba calou
O sino da igreja tocou,
O padre então se benzeu,
A rua o povo lotou,
E a procissão com pesar sucedeu.
No meio de tanta gente,
Que sequer sabe o que aconteceu,
A viúva sussurra um grito penitente
Murmúrio renitente
Arrependimento que lhe acometeu.
De preto agachada sentiu
Junto a si quem no escuro esfriou,
Na noite calada a distância suprimiu,
E o filho fugido à sua mãe abraçou.
Como quem não quer acatar o ocorrido,
A manhã se arrastando lentamente chegou,
Varrendo pra longe de alguns a agonia
Que na noite escura ao vazio atracou.
Uma injustiça na cidade foi feita,
E com o pulsar de sua vida o pobre homem pagou,
A inocência, o sonho, a evasão de uma vida,
Mero castelo de areia
Que com a desilusão desabou
A história que os vizinhos guardam na memória,
Não conta com honras o sambista da Glória
Que entre enredos, saias e goles de histórias
Em uma discussão, na mesa do bar
Com o samba calou...