RESUMO DO PRIMEIRO ATO (*)

Na iminência de um avanço,

Minha cidade reaparece.

Ensolarada, triste

Braço aberto, dedo em riste

Me cerca em plena estrada,

Me dizendo:

- Filho desgarrado!

Parado, continente, respeitoso me pergunto

- O que ainda quer de mim?

Por que me cerca em plena estrada

Por que me amarga a festa

Dessa maneira inocente e nefasta?

Afinal, no começo não fui eu,

Foi o mundo a me levar de caminhão Mercedes 1111...

Até que em março de 69

Parto à busca de poesia

Mas vazia

Encontro a Praça

Três Poderes em um só. E só.

O mais são pipas a roçar o céu.

Encontro O Mundo. Não escolho.

Me encolho e só depois acolho

- O que foi bem melhor.

Meus buracos e vacilos vêm de eu não morder mamilos

Me entregando aos pés de milho que não voltam mais

Ou mais: à peleja que ficou pra trás

E às horas que evitei “viver demais”.

Agora busco o imperfeito

Um SEGREDO que não contarei:

Banhada em meu desejo, ela se contorcia.

Não ria.

Apenas merecia.

Quando aprendo outra cidade

Aprendo poesia.

É doce essa mulher,

Minha vida vadia e quase seminua.

(*) Publicado originalmente, com mudanças, em O Velho Testamento, ed. do autor, 1988.

Nelson Oliveira
Enviado por Nelson Oliveira em 19/02/2006
Reeditado em 19/02/2006
Código do texto: T113737