DANÇANDO À BEIRA DO ABISMO
No alto dos edifícios
cabelo esvoaçante
temporal ...
à beira do precipício
suspensa em delírios
calafrios...
palidez de náufrago
olhos de espanto de suicida...
cidade estática, elástico
espichado ao limite
silêncios
esferas líquidas, agudos ângulos
oh incongruência das formas...
nas lnhas da mão lê-se se o futuro
na linha do trem, silêncio e solidão
pássaro morto
cigarras gritando socorro
na tarde abafadiça
suores...
na ponta dos pés, barco à deriva
ah me beija assim, devagarinho
uma só vez
e me faz acreditar que é possível
não haver morte nesta queda!
haver somente um vôo
mergulho no espaço
pés descalços
livres das sapatilhas
e das coreografias
alegria alucinada
vôo cego de alma liberta
vôo incendiado de prazer
queda livre, espasmo ...
e as angústias serenadas...
ah, a música, a música
que eu ouviria então
nascendo de dentro de mim
transfigurada nesta
intensa luz dos espaços
corpo vibrando ao toque
dos ares
sinfonia de rebelada !
ah, me beija então
nesta queda livre
sem destino
ah, uma só vez
nesta suave queda
sem esperanças
eu, corpo feito pássaro
asas abertas
tranfigurada estrela
ponto na linha do horizonte
silêncio dos desertos
reflexo claro nas águas...
oh incongruência das linhas
oh dor em flecha pontiaguda
onde ficaram meus
pés nesta estrada?