PRIMEIRA CARTA DE INTENÇÕES (*)

Vou dizer que me envergonho

Que reluto

Mas que entrego, enfim,

E aos poucos,

Os últimos pontos.

Esta história teve início

E terá fim.

A cultura que adquiri

Os cacos de vidro nos fundos da farmácia

A infância.

“Que aventura é essa?”

- Me chamam de insolente –

Que ventura a vida me reserva?

Não afundei navios

Não trucidei pardais

Mas, daqui para a frente,

Prometo ser um menino desobediente:

Já não posso esconder que amo

A pele nua das mulheres

E que adoro e que desejo

Peitinhos em flor

Sedução de bronze e areia

Sereias do meu sonho antigo.

Um conselho eu vos dirijo

Quando levarem seus filhos à piscina

Ensinem-lhes com firmeza

A bela arte do mergulho, pois,

Na superfície,

Não há glória alguma que se sustente.

A vida que se inventa por aqui

Agarra forte, tenazmente.

É bom não controlar

Nem tente!

Viver deve ser um vício

No qual se investe.

Deixe queimar o teu cigarro

O leite deixe que vaze do teu peito

Deixe que teu corpo deite noutro corpo

Deixe consumir-se essa delícia

Consumar-se o que há de potência no Universo.

O que é vivo deixe em vida

O que é sonho deixe em verso

Deixe rolar a lágrima na pena

Deixe gastar-se a tarde no poema.

(*) Publicado, com algumas mudanças, em “O Velho Testamento, ed. do autor, 1988.

Nelson Oliveira
Enviado por Nelson Oliveira em 18/02/2006
Reeditado em 19/02/2006
Código do texto: T113521