Street Girl
Qual será o preço
por teu fingido apreço?
Desses que logo se esqueçe,
assim que o corpo amanhece?
Ou daqueles mais caros,
que pagam os prazeres raros?
Dos quais só se esquece
quando o Tempo envelhece.
Quem fez tua sina
de ser a puta da esquina
nessa rua da Madame cafetina?
Quem te pôs sob o gringo pedófilo?
A miséria da orfandade,
ou a falta de uma Irmã de Caridade?
Ou o Neon da Cidade
que escancara o Objeto da publicidade?
Quem te pôs sob o velho tarado?
Qual o teu pecado
para purgar nesse leito errado?
O teu sonho é o comum de adolescente:
comida, roupa e aparelho no dente?
Sonho de um viver diferente,
onde o estômago não fosse tão urgente?
Ou só o sonho de que o Falso Penitente
seja o último cliente?
Tantos sonhos (talvez) e tanta culpa.
São teus os primeiros.
É minha a segunda,
por compor essa sociedade vagabunda.
Sociedade que entrega suas filhas
e se isola em redomas e ilhas
para nada ver, nada escutar.
E, depois, contigo deitar.
Fecham as janelas por te temerem
(ou por se reconhecerem?)
e vociferam suas ladainhas,
mas aliviam-se com cesta-básicas
e latas de sardinhas.
Usam teu corpo
e matam tua alma.
Suja, continuas na rua.
Querem-te nua.
Querem-te dócil e calma.
Sem Alma continuas na noite.
A puta da esquina,
a quem ameaçam com o Santo Açoite
e uma dose de estricnina.
Qual será teu destinho
forçada libertina?
Aonde irás brasileira menina?