COMO SOMBRAS, A MEU LADO

O ranger da velha porta fechando-se, á saída,

trazendo-me a noite real aos poucos,

em espasmos de mola...

O frio envolvendo-me num abraço de vento,

Impondo-se como uma muralha, aos sentidos,

apagando da memória os sons de vidros e brilhos, lá dentro...

O cachorro do Hank esperando-o perfilado, intocável,

dando consistência à penumbra densa

junto da parede prateada, enorme...

A cidade quase adormecida fazendo-se presente

em ligeiros ruídos, mais próximos

que o do mar protestando cais e sujeições...

Ignorando a estação recupero-me um pouco,

nessa previsível aversão súbita aos neons

iluminando trilhos e rodas de aço...

Afastando-me na noite,

caminho os passos do que não quero,

sabendo que fujo do que sou...

( Os primeiros passos ainda sem rumo

trazendo consigo os restos do dia,

como sombras caminhando ao meu lado...)