Miragem de Anjo

Ao te ver sorrir

tão espontânea,

flor instantânea

a florir na rocha dura,

com a alma tão pura

como o orvalho

que banha a manhã

inédita,

me lembrei de sorrir também.

Ao te ouvir cantar

ao meu lado,

companheira passageira

dessa infinita jornada,

o mantra sagrado

do bem querer,

exorcisei o fantasma

da solidão,

miasma da tristeza

que preenchia

meu coração.

Ao te seguir

( sem ter sido convidado )

com o passo desajeitado

de quem não sabe dançar,

percebi que deixara

— não sei porque — de tropeçar.

E que meu rastro

me era leve.

E no vento leve

me senti flutuar.

Como quem solta

as amarras do passado,

inflado pelo calor

que emana daqueles

que extraem da vida

a plenitude da vida,

voltei a sonhar.

E se tu fores,

miragem de anjo,

para além do horizonte

a outros céus iluminar,

levas contigo

minha eterna gratidão

pela terna lição:

fazer de minhas penas

novas asas

para voltar a voar