O Bobo.

O bobo

Que trabalha de graça

Com seu tic-tac

Atrapalha

O cavalo de aço

De mil cilindradas

Relinchando

Na madrugada

Atrapalha

A descarga da latrina

Fétida do vizinho

Borbulhando

E ecoando pelo prédio

Atrapalha

E mais a ventoinha

Fuinha capenga de fazer vento

Para resfriar o micro

Também atrapalha

Mas não impedem de escrever

Nesta noite em que

Os ruídos lembraram você

Libélula esvoaçante

Hipnotizada pela luz

Da cidade iluminada

Desce o morro de madrugada

Esgueirando-se

Pelas quebradas

Da noite nublada

Que indignada não quer chover

Decúbito dorsal é seu mal

Vai vida fácil

Ganhar o pão duro

De cada dia em cada noite

Uterina criadora de legiões

Asfixiadas nas camisinhas de Vênus

Mortas antes da fecundação

Não peça perdão faz parte

Da mais antiga profissão

Quem tem pecado nunca atira

A primeira pedra

Volta pra casa antes

Que uma bala perdida

Atinja o alvo

Apenas por estar perdida também.

ABittar

Poetadosgrilos