ESTOUTRO
Semi-pretérita
a palavra
agarra-se ao papel
para escapar
à fúria das águas.
O Silêncio
senhor das tempestades
estilhaça o verbo
e um possível poema.
O natimorto verbo.
A branco do papel
em calma absoluta.
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Todo poema nasce assim
de um OUTRO
projetado
nas palavras sempre
para aquém de si mesmo.
Todo poema nasce
na prisão do branco
delator e cúmplice.
E o que nos diz de si
do OUTRO
este nascido
prisioneiro e pássaro?
Isto?
Ou diz-ocultando
AQUILO
que os átomos-moscas-astros
sabem
e mantêm segredo?
Poema original de 1981.