Ele pede chinelo
Vestido e bola
Um pão ou farelo
Cimento que enrola
Na areia doída
A fome que mata
Engana a cascata
Das águas da vida
Em passos vadios
Estende a mão
Com lágrimas-rio
Lamenta por pão
Sem mesmo querer
Esse povo que morre
Sobrevive num porre
A razão de viver
Chegando a eleição
O povo se alegra
Com a cuia na mão
A gente se esfrega
Comício-teatro
Que sonho vão, mítico,
Pois eis que o político
É seu semideus
A voz se repete
"Esse homem é tão bom!"
"Ele ajuda a gente!"
E a vida clemente
Sucumbe silente:
A vis demagogos!
Risos falsos, clamores
Vive o povo de favores
Voto-moeda imprudente
Que elege novamente
A fome de todos!
Parnaíba-PI, 23.06.1988