O REFÉM DAS LETRAS
Não é tão fácil explicar como se dá o meu processo criativo;
Não sendo necessariamente o que vivo, é um sentimento que nem sempre experimento;
Dor real de um surreal sofrimento, respostas que não passam por meu crivo;
É minha forma de abstrair o substantivo, é a fome de meu alimento!
Eu não escrevo ilações e nem conjugo leviandades;
Já passei daquela idade que faz da poesia uma página de diário;
Eu sou um presidiário, cujas letras são as suas grades;
Minhas mentiras no fundo são verdades, porque meu egoísmo é hilário!
A minha letra é tua voz e isso é tudo que sei dela;
Seja feia ou bela, a sua projeção jamais será mercantilista;
Tudo quanto ela avista, se limita à ambição debruçada em sua janela;
Ela é uma grande panela a cozer os afetos de sua negra lista!
O título de minha poesia sempre será despretensão;
Ela é porta-voz de meu coração e não a ressonância de outras vozes;
Já percebi que são velozes, quanto ao vento emprestam minha emoção;
Sua riqueza é a solidão e sua miséria são seus algozes!