São carros que passam,
Pessoas que mudam,
Fingem sentir,
Mentem que vivem,
Porque mentir a si mesmo
É esconder-se do espelho!

São brotos que se abrem,
Aos besouros que lhe pousam,
E sugam, bebem,
Consomem o doce néctar.
Eis o preço de abrir-se à vida:
Suportar um amante eterno!

São dias que nascem, que mimam,
Noites que dormem, que ninam
O sono profundo da existência!

Mas afinal quem somos,

Se passamos, mudamos,

Mentimos, fingimos
E de nós mesmos fugimos ?

Quem somos, afinal?
Se nos abrimos e, assim, nos pousam
Nos sugam, nos bebem, nos consomem
E nos sufocam num amor eterno?

Quem somos, afinal?
Se a vida vivendo,
Na existência de um amor eterno,
Ainda dormimos, não sabemos
O que realmente se passa
E o que realmente somos!

 

Piripiri, 01.12.1998