Inoportuno Menálio
Há um dia, talvez mais... Haverá multidões,
sonhos inúmeros que não poderão se contar,
horas decorridas sem histórias,
mortas entre portas que não cansam de fechar
e entre um porque e outro, nenhuma resposta
a satisfazer o ego que não deixa de indagar.
Onde esconder os olhos quando esses apontam o fim,
muitas lágrimas, nenhum sorriso, nenhuma cor,
ao longe, uma melodia calma inicia dando o tom
numa mescla de tristeza e dor,
do canto que devo entoar, mas minha voz rouca,
já sem forças, não consegue no compasso se por.
Se a noite eterna abraçar minh'alma
nos passos de uma dança que nunca ensaiei?
E de repente mostrar-me sua face,
será de prazer os olhos que contemplarei,
o que haverá se o amanhã não mais acontecer,
ou apenas o nada, sem fantasias ou rimas,
como a poesia pobre que não me canso de escrever?
Longos versos marcam os anos que despertaram meus sonhos,
de nada valeram meu sim ou meu não,
não pensei ou refleti, apenas livre, deixei-me levar naquilo
que minh'alma nua gritou na liberdade que escolhi,
fui o sonho do poeta, não plantei nenhuma árvore,
filhos, não pari e nem mesmo um livro escrevi.
Mas sei que é chegada a hora,
nessa dança hipnótica, deixar-me-ei partir,
seguirei os passos desse acompanhante que nunca vi
e quem sabe assim, tornar-me-ei o sonho que por tanto
em puro encanto, há muito sonhei e nunca vivi...