PEDRA

Por que a mim tu és tão indiferente, Pedra?

Outrora foste anjo residente no tal castelo

cuja cúpula ergui ebriamente sobre ti.

Pus-me tão belo e erguido

Com o peito estufado e as mãos para o céu!

Assim, fiz-me árvore de sonhos e de amor

Meus olhos, cristais vitrais fulgurantes

que receberam a brisa a tilintar...

Fiz-me árvore com raízes em pedra:

fiz-me árvore com raízes no ar.

Arraigado no etéreo, dele constitui-me todo

Eu: teu castelo, meu paço, nosso abrigo;

tão sólido quanto o material de que fui feito:

do Nada lapidado e em perfeito encaixe,

fôlego concreto que se me veio ao peito!

Foste tu inerte quanto tu és deveras,

mas as minhas esperanças sempre me cegaram

Então, quando não mais os sinos escondiam o grito,

as pedra-ar do castelo de vidro despencaram!

E desabei; exausto, só os meus ombros doíam...

O que fizeste tu além do silêncio?

Sob salvados e escombros abracei-te, oh Pedra!

E tive cuidado de não lhe ferir as asas que dei,

malgrado não mas mostraste; sonhei que voavas...

Porém tu, tão hirta, tão dura, tão insensível!

Pedra-que-fiz-anjo, quantas asas me destes?

Deu-me as costas a voar sobre as nuvens

como quem sai de cena e é, ao mesmo tempo, chão

Mas não vôo... Anjo, nem me deste a mão!

porque a mim tu és tão indiferente: pedra.