O verde dos teus olhos

Meu coração está congelado.

A ternura que havia nele

escapou por um campo de cinzas esquecidas.

Será que foi o frio da cidade que o congelou?

Ou será que fui eu que me deixei levar pela vida que se leva aqui?

Meus olhos estão secos

e minha cabeça já não dói com problemas da puberdade.

Não quero mais fugir pra ilha,

nem ser raptado por Serafins.

Agora, é melhor ficar por aqui...

é mais fácil e me conforta.

Há uma guerra em meu sótão;

Parecem Deus e o Diabo.

Não sinto nada.

É anestésico e incolor.

É uma infinita e fugaz passagem.

Não é minha vida nem a Morte.

Não é minha dor,

nem a de outrem.

É o que eu esperei

e hoje me assusta.

Salvas de tiros de canhão estouram meus tímpanos.

A orquídea aparece de súbito.

Não é como se eu estivesse no prisma,

mas sinto que Vênus ignora a força de Apolo.

Por onde passo, Deus?

Parece OZ.

Não quero sair desta estrofe,

mas tenho medo de ser um “pra sempre” de vez.

Há um rugido.

Que rugido é esse?

Não rimo.

Rimo.

Não sei se rimo.

Rimando me entrego.

Sem rima sou o ego.

Se digo que sou o que era,

deixo de ser o que fui.

Se fui o que disse que era,

Não sou mais quem eu sou.

Quem sou? Onde estou?

Ah, claro, o poeta e a força verde;

apenas um coração congelado.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 08/08/2008
Reeditado em 26/11/2008
Código do texto: T1118574
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