O VAQUEIRO
Talvez nada levasse de seu,
desde a roupa até a montaria.
Mas campeava radiante pelos pastos,
aquela vida lhe dava alegria.
Batizou e chamava um a um pelo nome,
o gado que visitava cedinho.
Muito antes da chegada do orvalho,
antes do cantar dos passarinhos.
Assoviava um moda dessas do rádio,
ressendia a cachaça virada no repente.
Brincava com a meninada tonto no cavalo,
a corcunda pra trás e a cabeça pra frente.
Vinha trazer o leite nas manhãs madrugadoras,
e de contente dava risadas avacalhadas.
Com a satisfação de quem levantou faz tempo,
causando espanto no desânimo da rapaziada.
Vai embora e derepente se perde pelos campos,
seu rastro vira fumaça e dissipa no ar.
Um dia ele desapareceu no mato do destino,
e até hoje anda sumido por lá.