MOLEQUE DE RUA

Lá vai ele: menino moleque!

Vai feito barata às janelas dos carros

Que se fecham em desespero à sua presença.

Menino fedido, que de nariz escorrendo à boca

Lambuza as portas dos carros com suas mãos imundas.

Embaça os vidros dos carros com seu hálito malicioso.

Arrasta os pés encardidos, com dedos rachados e unhas gastas

Que tentam se esconder no que resta do chinelo de tira estourada.

Sua mão é ligeira aos olhos cuidadosos.

Sua língua é afiada aos ouvidos misericordiosos.

Sua face é tirana aos corações piedosos.

Leva essas moedas que não são suas.

Míseros centavos que nunca justificam sua existência

E ao menos compram seu veneno.

Deita moleque menino,

Estira ao relento esse corpo usado,

Talvez amanhã alguém lhe note,

Se o caminho atrapalhar.

Não se preocupe, menino sem nome,

Os jornais nada dirão,

Os números não mudarão,

Você nunca foi estatística.

Descansa menino imprestável,

Como você, outros virão,

Sua falta nunca será sentida,

Mas talvez de seus centavos.

Voa anjo pagão!

Seus pecados já foram pagos

Por todas suas vidas.

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