ENFIM
Quando nada mais houver sobre esta terra
Que me possa alegrar a triste alma,
Já acabada a forma incrível, branda e calma
De esperança que a vida ainda encerra,
Quando a crueza do destino não mais prender
Estes meus passos cambaleantes e incertos
E as agruras candentes dos meus desertos
Pouco a pouco vierem se arrefecer,
Quando meus ombros, arqueados sob o peso
Das amarguras que me tolhem todo o riso,
Estiverem já refeitos e um pálido sorriso
Conseguir entreabrir o lábio preso,
Quando a convulsão do último aceno
Impelir minha mão num vago adeus,
Duas flores nascerão destes olhos meus,
No pranto feliz de um final sereno.
Posso, então, acreditar que tudo enfim,
Ainda que tardiamente, estará acabado.
A comédia, mal escrita, terá findado
E o palhaço morrerá dentro de mim.