A MINHA ALMA MORA NA TUA VOZ...
AMIGA...
DO LADO DE CÁ DO MUNDO, dá para ver a tua alma... Não há rocha, não há magma, não há núcleo que lhe esconda o brilho, e os meus olhos, mergulhados no solo da minha profundidade, chegam lá a direito, perfuram litosferas e astenosferas, tocam as fímbrias da tua voz, molham-se do pranto do teu oceano, porque o teu mar navega nas mesmas lágrimas que o meu...
AMIGA...
Do lado de lá do Mundo, nos antípodas das minhas estações e rotações, encontrei-te, numa qualquer sincronia de sentimentos e forças, que nos ultrapassam, nos abraçam, nos fazem ver o mesmo Sol, o mesmo luar...
AMIGA...
OBRIGADA... por sentires, por existires, por seres equinócio, espelho, cálice e patena...
(A uma amiga...
que com tanto sentimento interpreta a minha alma nos áudios que publico... Emociona-me demais, ouvir tão sentidamente, tão fielmente reproduzidas os meus mais sinceros e doloridos sentires...
...dedico estes versos, inspirados mano-a-mano pelo Poema de Florbela Espanca - Folhas de Rosa):
**********AMIGA**********
Todas as prendas que me dás, amiga,
Guardo-as num recanto, às escondidas,
E quando não vigia o sol ardente,
Espreito-as e elas saram-me as feridas.
E falas-me de amor e amizade,
Serão suficientes meus bem-hajas?,
Pouco a pouco o meu pranto faz-se nuvem,
Pouco a pouco o meu riso ganha asas...
Pelo cálice de cor e pura luz
Sorvo um sentimento tão de dentro,
Que vibro como uma criança feliz
Quando se solta e corre contra o vento!
Na água onde me espelho brilhas tu,
No 'spelho onde te vejo, vejo a mim,
E da tua imagem recorto rosas,
E da minha sombra, pétalas de cetim...
E as pedras preciosas que desvendo,
Fio-as em colar, valioso e terno,
Simbolizando as estrelas do Universo,
Guiando travessia em mar fraterno.
E de todas as pedras, a mais cara,
Aquela que mais prende a minha alma,
É o teu sorriso, amiga, que pressinto,
Cada vez que se acende esta chama...
(Tera Sá)
Perdoem-me o atrevimento de ousar cantar em coro com a Grande
Florbela Espanca...
Vale a sinceridade do sentimento!
[*******FOLHAS DE ROSA*******
Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo ...
E falo-lhes d'amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente...
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente ...
Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade estranha e vaga,
Uma saudade imensa e infinita
Que, triste, me deslumbra e m'embriaga
O espelho de prata cinzelada,
A doce oferta que eu amava tanto,
Que reflectia outrora tantos risos,
E agora reflecte apenas pranto,
E o colar de pedras preciosas,
De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado...
Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mais fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...]
(Florbela Espanca)