COLÍRIO ALUCINÓGENO

prendo o barco na margem

o que falta além do ocular

me derramo sincero

já não tenho mais o que esconder

nunca tive o que esconder

pois o que está oculto

liberto se tornou pelo fato oculto

o que está suplantado

é sinal da hereditariedade

fruto de uma nova forma

de uma nova idéia

que não requer subjetividade

e não se submete ao caos

é algo que faço além

que não está antes e nem depois

e que no hoje nada é

é vida

e como tal é mistério

é simulacro de palavras

o mistério não está aqui

não está além do tudo

é apenas fluxo inconteste

é o Deus antes de si

é a natureza

em sua natureza mais primária

quase um arbítrio aleatório

ou um sentido semiótico

ou idiotice mesmo

ou uma interpretação contagiada

um fôlego cambaleante

sentimento de quem possui sonhos

e os frutos deste se esvaem

na certeza de que o real

é tão real

que transforma a ficção em real

e tudo se mescla num guisado

numa epilepsia santa

numa simulação da vida

despreocupada em sentir

despercebida do gozo

da saliência protuberante

do silvo que se insinua

do sexo açodado de sabor

e da eclosão nuclear

que transborda as barreiras

que gera nas linhas uma falácia

que não precisar ser arriscada

pois é risco certo

pois é vida antes da morte

pois é morte antes do óbito

e nada é tão desleal

e fiel a uma lógica

que foge aos conceitos matemáticos

pois pertence à vaga tradição

e não possui nenhuma intenção

e fere minha ilusão

 tomara que o analgésico funcione

e eu consiga dormir 

Ozimar Júnior
Enviado por Ozimar Júnior em 05/08/2008
Código do texto: T1113338
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