Poema pra não morrer de tédio
Não faço poesia porque te amo.
Não faço poesia porque te quero.
Faço porque tenho tédio,
Muito tédio, morro de tédio.
Invejo os anjos que no seu ofício de anjo
suportam eternidades inteiras
com sua orquestra sinfônica no fundo,
sobre um horizonte melódico e profundo,
suave e profundo... distante do mundo...
Anjos. Quero vê-los suportar aqui em baixo,
No batente pesado do cotidiano:
entre domingos e músicas de rádio
Olha, meu amor,
Até sonhei que fui poeta
Um dia, beijando sua boca
Um dia, olhando pra's estrelas
Um dia, lavando minhas cuecas.
Mas, para meu pesar e lamento,
é humanamente impossível ser poeta
vinte e quatro horas por dia.
A poesia é privilégio dos anjos.
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