Poema pra não morrer de tédio

Não faço poesia porque te amo.

Não faço poesia porque te quero.

Faço porque tenho tédio,

Muito tédio, morro de tédio.

Invejo os anjos que no seu ofício de anjo

suportam eternidades inteiras

com sua orquestra sinfônica no fundo,

sobre um horizonte melódico e profundo,

suave e profundo... distante do mundo...

Anjos. Quero vê-los suportar aqui em baixo,

No batente pesado do cotidiano:

entre domingos e músicas de rádio

Olha, meu amor,

Até sonhei que fui poeta

Um dia, beijando sua boca

Um dia, olhando pra's estrelas

Um dia, lavando minhas cuecas.

Mas, para meu pesar e lamento,

é humanamente impossível ser poeta

vinte e quatro horas por dia.

A poesia é privilégio dos anjos.

***

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 02/08/2008
Reeditado em 08/10/2009
Código do texto: T1109798