Pequenos Insetos

Hoje é a manhã mais escura,

a noite mais fria. É a noite da noite.

Uma chuva rala me acordou

em poros de sono.

Logo acendo o cigarro.

Logo vem o pigarro.

Futuramente, o câncer que vive em mim

trará vida à Morte.

Logo, a Morte não é tudo,

nem a chuva que me queima.

Me entorpeço de saudade.

A vontade é de fugir.

Fugir pro longínquo campo acinzentado

das trevas do meu coração.

Lá não tem a luz do sol;

mas aqui também não.

Sendo assim, escolho por ficar aqui.

Opito pelo ócio.

Queria esquecer tudo,

principalmente o que não sei.

Esconder-me-ia se houvesse o cárcere,

mas nem a prisão me aceita.

Estou a três passos da luz

e a um do abismo.

Vejo-me em um pântano

seco.

Vejo-te ali,

sobre o córtex.

Procuro entender o que faço aqui,

tão perto e longe de ti.

No córtex da cidade estática e fosca.

O sopro da cigarra vem gradativo.

É manhã ou dia?

Não faz diferença. O tempo não existe.

Você não existe.

“Eu” já não existe.

Existe um todo,

que é parte de um mínimo ponto

esquecido nas pupilas nossas.

Calado, por fim, está o sentido.

O único e mínimo. A máxima do finito.

Por certo,

esqueci de fechar as janelas.

Os pernilongos me assombram...

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 01/08/2008
Reeditado em 26/11/2008
Código do texto: T1107570
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