Pequenos Insetos
Hoje é a manhã mais escura,
a noite mais fria. É a noite da noite.
Uma chuva rala me acordou
em poros de sono.
Logo acendo o cigarro.
Logo vem o pigarro.
Futuramente, o câncer que vive em mim
trará vida à Morte.
Logo, a Morte não é tudo,
nem a chuva que me queima.
Me entorpeço de saudade.
A vontade é de fugir.
Fugir pro longínquo campo acinzentado
das trevas do meu coração.
Lá não tem a luz do sol;
mas aqui também não.
Sendo assim, escolho por ficar aqui.
Opito pelo ócio.
Queria esquecer tudo,
principalmente o que não sei.
Esconder-me-ia se houvesse o cárcere,
mas nem a prisão me aceita.
Estou a três passos da luz
e a um do abismo.
Vejo-me em um pântano
seco.
Vejo-te ali,
sobre o córtex.
Procuro entender o que faço aqui,
tão perto e longe de ti.
No córtex da cidade estática e fosca.
O sopro da cigarra vem gradativo.
É manhã ou dia?
Não faz diferença. O tempo não existe.
Você não existe.
“Eu” já não existe.
Existe um todo,
que é parte de um mínimo ponto
esquecido nas pupilas nossas.
Calado, por fim, está o sentido.
O único e mínimo. A máxima do finito.
Por certo,
esqueci de fechar as janelas.
Os pernilongos me assombram...