A Comédia Amargurada da Fuga ou Porque os Demônios Não Choram?
Porque a blasfêmia barata?
Tão ingrata, insensata
Caderno e caneta no chão
Porque os demônios não choram?
Eis que o orgulho me beija
com gosto de cereja e - que sorte! -
Trazer-me-ia, logo, o cheiro da morte
fresca como Andes em tempo de sol.
Eu nu. A anestesia do frio dali
Me dava náuseas mas como aprendi
'com tudo se acostuma' - até mesmo
o com o azar, qual não me lavo pra honrar.
Eis que os demônios de outrora
faziam festas e alegorias em nome
do passado aterrorizante e escravizado
- Sim! Festa pelos dias que acabaram!
Um ali se dizia pronto pra escrever
um poema de libertação! Foi do chão
ao teto em segundos. Calúnia!, mau
sabia de Bocage, Drummond, do mundo!
Fazia-se sangue de vinho, carne de pão
Festins amaldiçoados de bons corações
quando se fez silêncio. Nunca se viu
demônios tão tristes. Blasfêmia vil!
Um outro ali se indagou inquietando
os demais astros das trevas - como adoram
ser chamados. Nunca se viu tanta tristeza ali
Quando se perguntou 'porque os demônios não choram?'
Não me importo de continuar um anônimo
Mas sei, então, não ser nenhum demônio.
Se vissem minha lágrima fugitiva era fato:
Anos jogados fora, penhorar-me-ia ali meu pacto.