A Melhor Idade, 2ª Parte.
" . . . prossigam o baile,
continuem o infantil folguedo
nesse bizarro arremedo
que chamam de "A Felicidade"
na "Melhor Idade".
Mas eu lhes peço, Senhoras e Senhores,
não se vendam nessa loja de Penhores,
nesse Circo de Horrores,
armado por aqueles, que por ignorância
(ou pura má-fé),
vendem-te a extravagância,
como passaporte para ser aceito
por aqueles que foram feitos em teu leito.
Não, meu caro velho.
Não te humilhes por migalhas de afeto,
mostre-lhes que parecer bobo não é nosso ato predileto.
Levantemos nossos cabelos brancos,
retomemos o direito de sermos anchos.
Não te vendas às Academias,
vivamos a nossa idade com a devida poesia.
Sejamos velhos, aceitemos a Natureza.
E desfrutemos o que há de beleza
nesse tempo que nos foi prolongado.
Tenhamos dores, saudades e tristeza.
O Mundo tudo comporta
e, creia-me, não há só uma porta
para se buscar a alegria.
Não queira ser "Jovem de Espírito".
Deixe-o amadurecer,
pois sempre haverá novas teias a tecer.
Que outros digam: "stress".
São escravos de estrangeiras galés.
Mas nós tivemos acesso à Flor do Lácio*,
Catedral e Palácio
que acomoda e expressa o que já fomos.
E o que ainda somos.
Aceitemos nosso corpo gasto.
Trocamos os músculos pela Sabedoria.
Aproveitemos o tempo desse repasto
e as cores dessa outra via.
E se os bailes e as traquinagens
te agradarem, faça-as. Mas que tais
sejam para teu lazer
e nunca por imposição das novas Vestais
que preconizam o exercício de bobagens
como a Panacéia para o Prazer.
Já se escreveu que cada idade tem sua beleza.
Eu, pseudo poeta, digo que é uma certeza.
Reviva a rebeldia que nos caracterizou
e não te corrompas ao Mercado.
Ignore as fórmulas absolutas
e insista que tua felicidade não findou,
nem teu orgulho em rejeitar o jogo marcado
dessas ciências (?) corruptas.
Tudo passa. Menos o que somos.
Não deixemos que nos roubem a essência,
ainda que prometam fadas e gnomos.
Brademos a antiga resistência
contra esse novo "AI5", de igual indecência.
Sejamos velhos. Sinal que sobrevivemos.
E é como tal que exigimos
o respeito que merecemos.