HISTÓRIAS

O dia terminou

Uma carícia de noite inevitável

Acua-me neste canto escuro

cheio de amuletos.

Objetos como fetiches,

contam histórias dos meus passos

espalhados por tanto mundo,

e traduzem-me nos pequenos confortos

que já fazem parte de mim, insubstituíveis

como cicatrizes indeléveis.

Algum outro pisa-papéis

Seria melhor que uma rosa do deserto,

esculpida pelos ventos

em carícias de uma areia turca e fugaz ?

Alguma inutilidade seria mais preciosa

do que esse suporte de prata lavrada

para a minha velha caneta –tinteiro,

cansada de escrever Marrocos ?

Onde, senão numa casca de tartaruga,

em linguagem pictórica,

alguém esculpiria memórias

contando as tradições

de algum povo sem escrita

nem futuro ?

O cansaço sobrevém.

A noite fecha-se,

em sorrisos de papel amassado.

Lentamente, os olhos fecham-se.

Sublinhando o tempo,

os objetos persistem ao meu redor,

gritando amores.