Registro de um Desdobramento Astral
Só,
por dentro,
no leito enfermo de paixão,
serenando febre e convulsão
começo a relaxar.
Medito.
E me dito ordens
de sair
de voar
de te buscar ...
Durmo.
Calado o corpo denso,
o cérebro tenso,
decolo.
Abandono o quarto
e largo ao meio
meu abandono.
Te busco.
Volitando
mais rápido
do que supõe a física terráquea,
guiado pela mente
inconsequente
no sonhar,
chego incorpóreo
onde não ouso chegar.
Eis o lugar !
E eis que tudo dorme
ao meu redor.
As ruas dormem.
Os bares dormem.
Cães e humanos,
mendigos sub-humanos ...
... todos dormem.
Contemplo teu prédio
por um tempo indefinido
que não parece
exatamente
passar.
Transpasso
grades, andares,
concreto
e no teu quarto,
abstrato,
me sinto pousar.
Dormes.
Linda como dantes,
linda como sempre.
A vontade
é te tocar.
O desejo,
te beijar.
O medo,
de te acordar.
Hesito.
Um movimento teu
e meu tormento
a se manifestar.
Quero sair,
— intruso me sinto
quero fugir
quero ficar
— confuso me sinto.
Me ponho a voar.
Levado por meus temores
aturdido por dores
que não sei precisar,
retorno ao corpo silente
e é difícil me encaixar.
Desperto !
Prumo perdido,
sem rumo,
sem sentido,
mal me sinto acordar.
Me agasalha
a penumbra,
a hora imprecisa
da madrugada,
o sobressalto
do pesadelo
de acordar.
Foste miragem,
foste sonho ?
Não sei
o que pensar.
Acho que vou levantar.