Ventre virgem


Imagino teus cabelos como os meus
Finos castanhos lisos sem cachos
Olho minhas mãos e num segundo te toco
Mas no vazio do pensamento me acho...
Quando me vejo criança na foto
Crio tua imagem à minha semelhança
Quase escuto tua voz
Quase te canto uma canção
Mas me calo por estar no vão...
Quando saio pelas ruas
Te percebo em outros braços
Os meus não sentiram teu peso
Mas pesa a falta de abraços...
As noites que passo em claro
Não são prá atender teu chamado
Nunca chamas por mim
Mas eu te ouço mesmo assim...
Minha vida é só minha
Não vieste reclamar teu pedaço
A metade de mim resguardada
Desse amor pela vida negado
Mantendo meu ventre virgem
Da semente do fruto amado...
Mas sigo meus dias em frente
Por isso não choro, só reflito
E às vezes me ponho a escrever
Sobre o filho que eu não pude ter... 



( ilustração: grávida - desenho Cristina Nunes )

versão com desenho da poesia Ventre Virgem publicada em 30/11/2005.