SOBRANDO
O que sobra
não são os dias, mas o tempo exsudado
das palavras, escorridas como lava
por entre as grades da vontade.
Não são as carícias, mas os atos crônicos,
num suave compasso lento, de afagar.
E as brisas trazendo as vozes prudentes
das folhas que compõem as árvores
como gritos eretos na paisagem.
São os gestos costumeiros
rumando a desilusões,
como raízes afundadas,
fincadas numa eternidade
quase terminada,
como uma outra memória
que só a memória mantém.
O tempo sustenta-se.
O vento, como sempre,
espalha-me como pó.
Julho de 2008