Minha prece ao menino que fui

Não me abandone, menino que fui.

Não me deixe sozinho no espelho

Com uma barba por fazer.

Ela está curta, mas guarda dores abomináveis.

Não me abandone, menino que fui.

Porque carrego em mim algo essencial

Que se prolonga no meu gesto

Alguma coisa do menino que fui

E que faz o meu avô me reconhecer como seu neto

E que faz minha mãe me reconhecer como seu filho.

Continuarei andando pelas ruas

Acenando aos amigos

Cortejando mulheres

E ninguém notará que atrás de minha barba

Mora um homem triste.

Edificarei na mesa de um bar a minha igreja

e farei da amizade minha religião.

E você menino antigo será como aquela flor

Dentro do meu livro, da mais ingênua poesia,

Aquela que acredita nos homens e na vida.

Porque no fundo continuo aquele menino,

Aquele menino que tem medo do escuro,

Aquele menino que nunca deixou de pedir a benção,

Todas as noites, antes de dormir.

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 28/07/2008
Reeditado em 08/04/2010
Código do texto: T1101070