Impregnação
Tua impregnação
se faz sentir em toda parte.
Impregna a ação,
o desejo de agir,
minha arte.
Tu estás nas entrelinhas de meus versos,
mesmo naqueles não colhidos no papel.
Tu vestes aquele blazer
da augusta vitrine dos sonhos.
Tu ostentas todo ouro,
prata ou marcassita,
és tu, tudo aquilo que reluz.
Não há perfume senão mesclado
àquele que te seguia por todo lado.
Não há rosa que, vendida,
não seja entregue à mulher errada.
Há bares que não me servem mais
por estarem repletos de ti.
Meus caminhos se tornaram desvios
dos passos que tanto segui.
Ônibus há que viraram máquinas do tempo
a me levarem
por percursos mais que passados,
pretéritos mais que imperfeitos
por não terem futuro algum.
O chopp está mais gelado que nunca,
nos copos que suam frio
na febre de te esquecer.
A fumaça do cigarro
não quer se dissipar;
viciados estão meus olhos
em toda mulher
a te enxergar.
O mundo impregnou-se de ti!
Quem há de varrer-te
de minha memória?
O tempo — que como disse Veríssimo
— transforma um grande amor
em pequenas maldades?
A morte, se nem nisso
posso crer, posto que sei
posso renascer ao teu lado?
Novos ares, novas cidades ?
Mais afazeres?
Quem sabe uma nova paixão?
Uma re-contaminação
por outros seres?
A noite insinua um novo dia.
Durma, peito.
Há muito com que sonhar.