Sobrevivência marginal
Numa cidade desconhecida,
Perdido mais uma vez,
Onde placas de ruas e avenidas,
Não lhe devolvem a lucidez
É mais uma cabeça de gado,
Desenfreada e irracional,
Atravessando as catracas do metrô,
O seu caos urbano matinal.
A essência é suprimida,
O mal-estar já é normal.
A exigência por mais um dia
É a sobrevivência marginal
Quando, após um jogo de cartas,
Em uma mesa de bar
Entre um copo e outro de vinho
Seus pais lhe conceberam sem pensar
Nasceu então e foi crescendo
- Mas não foi criado para pensar.
A burguesia é uma piada,
É tudo o que ele sabe falar
São todos farinha de uma mesma saca
E assim ele se põe a soluçar
Mas a única certeza que lhe mata
É a de que estão numa prateleira acima a falar
Uma prateleira pra ele tão alta,
Que ele nunca irá alcançar
Sua mãe lhe disse uma vez
Que a vida ele precisava ganhar
Que aquele era seu maior desafio
E ele precisaria muito se esforçar
Mas não lhe explicou como nem por onde
A vida ele deveria começar
Se tornou então um homem-bomba
Prestes a se render e a explodir,
Mas sem a munição correta
Ninguém fez força para lhe impedir.
Pois esqueceram de lhe avisar
que hoje em dia o ganha pão
é diferente dos tempos do café-com-leite
hoje é fruto da informação.
Em um quarto escondido,
Onde pensamentos vêm e vão,
Ele se encontra perdido
Num inferno de desilusão.
Aguarda então calado
Por um disparo ou por um perdão
Porque, para a sua cabeça de gado,
O suicídio é a única solução.