Canto em desencanto
Canto meu canto sem tom, sem encanto,
vejo nas vidraças faces amortalhadas,
em vestes sombrias, sem vida,
sobriamente alucinadas...
Gotas amargas de chuva contínua
atolando a alma perdida em lama,
reflete o mal nesse mundo vivido
envolto no medo que nunca ama...
No sonho o desejo que nunca floriu...
Mostra-se nas sombras último arrebol,
será feito em noite o eterno tardio?
Volto os olhos à procura do sol.
Manda a calma que espere em cena
pela vida que a morte almeja,
sórdida sorte se faz pequena
alma minha que tanto deseja...
Sendo de vento a tempestade afoita,
cobre horizontes em nuvens serenas,
sofre o carrasco que o corpo açoita
tornando a paz um sonho apenas...