portas e janelas

fazia tempo

que as minhas

janelas e portas

estavam fechadas

vidinha arrumada

no sala, quarto e cozinha

do meu coração

sem planos imediatos

sem pensamentos futuros

só uma lâmpada acesa

pra afugentar o escuro

eu sei que lá fora

as manhãs eram claras

e as noites de lua cheia

isso tudo eu conhecia

quando volta e meia

medroso

olhava pelas frestas

e via

mas não tinha ousadia

de sair da penunbra

tão acomodado que estava

lembranças vulgares

me alimentavam

no meu dia a dia

lembranças era tudo que eu conseguia

e numa manhã dessas qualquer

acordei e dei de cara

com a casa toda clara

e um estranho vulto de mulher

seu olhar iluminava a sala

num sorriso radiante

e eu perplexo e inseguro

na minha cara de sono

no meu eterno olhar triste

de abandono

ela se aproximou devagar

e numa voz serena

me pediu que fizesse um poema

um poema que fosse de amor

e milhares de poemas vieram

como numa avalanche

nasciam do chão feito flor

e fez-se um jardim

em volta de mim

fiz dessa mulher minha amante

e daí em diante

transformei minha vida

arranquei todas as portas e janelas

e hoje vivo a vida dela

jose luis lacerda
Enviado por jose luis lacerda em 23/07/2008
Reeditado em 23/07/2008
Código do texto: T1093651