portas e janelas
fazia tempo
que as minhas
janelas e portas
estavam fechadas
vidinha arrumada
no sala, quarto e cozinha
do meu coração
sem planos imediatos
sem pensamentos futuros
só uma lâmpada acesa
pra afugentar o escuro
eu sei que lá fora
as manhãs eram claras
e as noites de lua cheia
isso tudo eu conhecia
quando volta e meia
medroso
olhava pelas frestas
e via
mas não tinha ousadia
de sair da penunbra
tão acomodado que estava
lembranças vulgares
me alimentavam
no meu dia a dia
lembranças era tudo que eu conseguia
e numa manhã dessas qualquer
acordei e dei de cara
com a casa toda clara
e um estranho vulto de mulher
seu olhar iluminava a sala
num sorriso radiante
e eu perplexo e inseguro
na minha cara de sono
no meu eterno olhar triste
de abandono
ela se aproximou devagar
e numa voz serena
me pediu que fizesse um poema
um poema que fosse de amor
e milhares de poemas vieram
como numa avalanche
nasciam do chão feito flor
e fez-se um jardim
em volta de mim
fiz dessa mulher minha amante
e daí em diante
transformei minha vida
arranquei todas as portas e janelas
e hoje vivo a vida dela