cárcere
//eis que me tens aqui
dobrada,
religiosamente curvada
diante dos teus olhos que
se dobram para dentro,
naufragados
é a primeira vez que te calas
e te silencias tão profundamente
que nem teu pensamento fala
:tudo é silêncio.
enquanto em mim
o todo grita e lateja
com fome
de um fio de som que seja
que saia dessa boca que tanto
articula, mas não deixa correr
a fala.
agora,
que me tens na sala,
escorada na porta;
agora
que me tens a meia hora,
oferecendo explicitamente minhas idéias tortas,
ao passo que te fechas cada vez mais pra mim...
eis que me tenho aqui,
no alvorescer da idade
percebendo a mim como a tranca
que se complementa, com especificidade
a uma chave
que só você tem
(e não quer).//