cárcere

//eis que me tens aqui

dobrada,

religiosamente curvada

diante dos teus olhos que

se dobram para dentro,

naufragados

é a primeira vez que te calas

e te silencias tão profundamente

que nem teu pensamento fala

:tudo é silêncio.

enquanto em mim

o todo grita e lateja

com fome

de um fio de som que seja

que saia dessa boca que tanto

articula, mas não deixa correr

a fala.

agora,

que me tens na sala,

escorada na porta;

agora

que me tens a meia hora,

oferecendo explicitamente minhas idéias tortas,

ao passo que te fechas cada vez mais pra mim...

eis que me tenho aqui,

no alvorescer da idade

percebendo a mim como a tranca

que se complementa, com especificidade

a uma chave

que só você tem

(e não quer).//

Lynce
Enviado por Lynce em 22/07/2008
Reeditado em 23/10/2008
Código do texto: T1092780