Rotina
Alarmes em pânico, relógios, buzina!
Rotina, rotina, rotina:
É o palco que vejo com abrir a cortina.
Nada de vedetes, confetes, serpentinas.
Apenas bocas bocejando as seis da matina.
Rotina, rotina, rotina:
Nenhum sabiá na varanda, canção que me exila.
O sol que me aquece já não me ilumina.
Palmeiras ao longe me cansam a retina.
Nenhum cavalo verde a me dobrar na esquina.
Até mulher gostosa a paisagem me sovina.
Pára de fazer barulho aí em cima!
Diabos de prestação; tanta conta que me desanima!
Queria fazer um poema - mas que saco! – não mudo de rima!
Ando aflito, procuro no mundo a minha sina.
Já me cansei das carícias do cigarro,
dos apelos nervosos da nicotina.
Procuro algo novo: disco voador, louca bailarina, poeta que canta
[mas não desafina.
Qualquer coisa que não seja o velho açoite, a mesma guilhotina,
o mesmo abate diário que me desatina.
Qualquer coisa que não seja o relógio que azucrina,
Qualquer coisa que não seja o barulho do andar lá de cima!
Qualquer coisa, qualquer coisa que não rime com rotina!
Escancaro minhas janelas, reinvento minha sina,
E grito a essa que me disciplina:
- Rotina, Rotina, Rotina,
Vai ver se me encontra lá na esquina!