Rotina

Bom-dia, rotina.

O banho tem pressa,

No espelho a vaidade

Perde bom tempo,

Café mal tomado

E, no pensamento,

O cheiro da fruta,

Que fica na mesa.

Aperto o passo

Me dói a certeza

De ônibus lotados

De rostos cansados...

Bom-dia, rotina.

Na mesma esquina

O olhar do moço,

Que não se aproxima...

Mergulho na mesa

Com tantos projetos,

Processos, problemas,

Protestos em vão...

São tantos carimbos!...

Cadê solução?

E o dia lá fora

Tão lindo! Tão lindo!

Bom-dia, rotina.

É hora do almoço

E o olhar o moço,

Que não se aproxima...

Boa-tarde, rotina...

Na mesa mergulho,

Me banho em papéis,

Montanhas de entulhos,

Ofícios, decretos.

Artigos e leis...

O povo é um projeto

Sem voz e sem vez...

Boa-tarde, rotina...

Aqui no meu poço

O olhar do moço

É que me anima...

Boa-noite, rotina...

Aqui me despeço.

O olhar do moço

Já se aproxima

E sua voz quente

Diz que me quer.

Seu corpo não mente

É pedra que chama

Me leva pra cama

Sou toda mulher...

Emília Casas
Enviado por Emília Casas em 07/02/2006
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