O ESPELHO DA TELA
Sala de cinema
[imobilizados]
atores de osso e carne,
com mãos em outras mãos,
fazem a vida saltar para a tela.
Na estréia da platéia
[repercute]
o temor pelo estrelato,
a fitar a fita com atenção,
pela poeira da luz em projeção.
A trilha da história
[sonora]
sem medo que o sussurro
do despertar do seio prematuro
por mãos inseparáveis a cada sensação
de línguas em íngua, por tanto beijar,
vê que nem o piscar desatento
parará a fita em exibição.
O acender das luzes
[busca]
sem medo dos cochichos
desta hora e meia de cegueira,
o abrir dos olhos de quem está ao lado
catando pipocas por cima e baixo da camiseta
e lenços prontos para enxugar o guaraná
derramado no vão das pernas.
A porta pouca
[quase sem saída]
partilha, na tontura da imaginação,
a intenção das frases deste roteiro falado
saídos da tela dos personagens cinematográficos
onde os namorados, geralmente, saem enamoradíssimos.