Impressões sobre um domingo à noite
I
A noite caindo,
As pálpebras não caem.
Todo tédio, tanto nada,
Todo medo, tanto ócio...
O hoje chorando,
O amanhã sorrindo...
Eis o fim
De mais um domingo.
II
“Eles parecem tão felizes!”
Exclamo a voz suave -
Imperceptível na mente vazia -
Ao olhar um álbum de retratos
Num domingo à noite.
“Eles parecem tão felizes!”
Sussurro o lamento –
Silencioso no ócio -
Ao tocar, com os olhos, em sorrisos
Num domingo à noite.
Eles parecem tão felizes...
III
Mas, num domingo à noite,
A alegria, quando há,
Tem residência lá fora.
Cá dentro, se é que mora,
Está nos livros, álbuns de retratos bem passados –
Ou do ontem, quem sabe? -,
Longos programas de TV que nada falam,
Ou, se falam, dizem o mesmo.
No entanto tudo é sempre novo:
Sabe-se do começo que o amanhã traz,
Que ninguém toma o mesmo banho duas vezes,
Que o domingo, sobretudo, não quer morrer, mas morre,
Sabe-se que Apolo vem e traz o novo, mas –
Loucura da poesia e mistério da vida –,
O novo vem sempre da mesma forma:
NOVO.
IV
E minh’alma é um domingo à noite.
São Paulo, 06 de julho de 2008