PRECE VERDE PARA UM AMOR MADURO

Suave como a canção

mais antiga do Roberto,

doce como a imagem

do Caetano romântico,

eu vou lhe cantar

um poema na voz inesperada

calada pela mudez enfim.

Preciso ouvir dos seus olhos antigos

que os braços são arrepios e abrigos

onde o começo de tudo é um final de tarde

antes defuntos juntos do que amigos separados

mesmo que as asas das borboletas cansadas

se emancipem qual cores de arco-íris.

Inútil como a maturidade

não revelada do Arquiteto,

complacente qual as velas

no contorno do Operário

morto, apagado por cada respingo

de asfalto, na saliva viva sem o beijo

por cada morte última de amor.

Preciso saber o nome dos amigos novos

com o mau hálito dos véus das ladainhas

com o mau hábito de não desvendar o mistério

de onde se escondeu Deus, Roberto e Caetano,

pelas graças alcançadas sem a oração

da rede esgarçada do amor-paixão.

Suave, como a viuva sem a teia

que aprisionou Deus, Roberto, Caetano e eu,

uma mulher admirável chorou o Operário em vida

circunstancialmente afogado no amor em construção,

vertiginosa queda ao chão qual jaca pêca, espatifada

e renascida pelo parto da ausência respingando velas

a mulher pouco menina vestiu-se de madura amante

e não mais chorou sobre os corpos pêcos ou mortos.