A REBOLOSA JUREMA AZEVICHE
Jurema Azeviche,
com alma e pele de Otelo,
orgulhosa dos requebros da bunda
em meio ao povo, em meio a multidão
passava desapercebida, passava gente
pelos brancos, pelos mestiços, pelos negros
qual a mistura de raças da terra onde o sol amorena.
Jurema Azeviche,
sensualidade de Eurídice,
ostenta feitura de cabeça aos santos
sem madeixas pixains, turbante e sonho
derramando nas costas com água-de-cheiro
pelos poucos, pelos muitos, pelos encantados
erês infantis iniciados sem a roupa pagã desmedida.
Jurema Azeviche
tinha tudo para não rir branco.
Com pouco tempo de vida: inanição.
Com algum de consciência: separação.
Com muitos de brinquedos na rua: desilusão.
Jurema Azeviche
teve tudo para negar sua raça.
Quase puta da antiga casa grande
Quase estrangeira de cabelos maga-hair
Quase nua dos olhares curiosos aos quartos.
Apesar de tudo,
Jurema Azeviche guarda os peitos pequenos para a blusa,
Jurema Azeviche só entrega sua boceta chupeta para o ardor.
Jurema Azeviche deitada se cobre sem saudade da nudez tão rara.
... e se escancara lambida
quando o suor escorre pela fonte.
... e se veste no pudor sem-vergonha
quando debruçada aos poucos homens.
E o curió-cantador
contou para a canária-da-terra
histórias de Jurema, orgulhoso do Brasil!