AUTOPSIA

Desabotoe o peito,

mostre-me teu coração,

preciso tocar com as mãos

os medos das auréolas róseas

mortas de frio e de vergonha

dos dedos que abrem tua calma.

Desabotoe os braços,

abrace-me de mãos suadas,

preciso não temer a liberdade

dos beijos malandros da rua

derretendo sorvetes de gosto naturais:

bico de peito duro ao céu da boca .

Desabotoe as feridas

vejas curiosa esta hemorragia

do sangue venoso do mercurocromo.

Desabotoe todos céus

caias perversa, caias madura

fadada aos pêndulos perpendiculares.

Desabotoe todas as terras

caias madura, plantes perversa

os grãos, o sêmen no meio das pernas.

Desabotoe os corpos

vejas o rosto desse indigente morto

que quer te ver, mesmo cadáver: nua!