VELHAS IMAGENS

a prisão é o ombro aconchegante

recebendo o peso da cabeça voluntariamente

a palavra tranquilizadora dos ocasos

a luz da vela iluminando os sótãos

revelando a nitidez dos contornos das sombras

e descodificando os títulos dos livros empoeirados

a liberdade corre pelos vales

bate asas nas tardes de caça nas penas

suadas das codornizes condenadas à morte

e espelha-se nos lagos das estampas escondidas

por detrás dos armários vazios das casas

disfarçando a solidão que as atormenta

o prisioneiro acalenta acordar na manhã seguinte

com as mãos agitando o ar e o corpo vertical

vendo-se a passear na ausência do silêncio da cela

e sonha deitar-se na areia de uma praia distante

escutando o mar acariciando a dureza do calhau

pintando o horizonte com a cor dos olhos da amada

no seu imaginário cinzento as velhas imagens

reinventam em torvelinho desconhecidas paisagens

sem se lembrar de mais nada

José António Gonçalves

(inédito.17/10/99)

JAG
Enviado por JAG em 05/02/2006
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