BRILHOS NA NOITE
Se não fossem esses caminhos etéreos
subindo pelos acasos do espaço negro
em imprevistas espirais de prata,
afagada suavemente pelo luar
em extremados carinhos de amante,
como ficariam as estrelas?
O que lhes daria o brilho cintilante
nas noites, quando nos perdemos
de nós e da vida, rumo a infinitos
que acabam ali mesmo, logo depois,
em ponteiros de relógio comprometido?
Caminhamos como deuses por entre elas
deixando na abóboda as nossas marcas
acidentais, como cicatrizes marcando rotas
previstas nas dobras de um outro tempo.
De vez em quando, inevitáveis, pontos de luz
nascem e traçam visíveis arcos luminosos
tidos como cometas fortuitos na escuridão.
Mas são apenas acasos, revelando
onde roçaram, faiscantes, as nossas garras,
em mal domadas calmarias...
( Embora haja quem veja, no brilho das estrelas,
velinhas nas mãos de anjos cantando aleluias,
ás vezes parecem-me apenas reflexos de lágrimas
subindo aos céus... )