Penha
Foi no tempo da banda e da retreta,
do medo do boi da cara preta
e do estalo do revolver de espoleta
que Amaro amou Julieta.
Moça que não era moça, diziam.
A quem pedia, dava o que queriam.
Falada no bairro, entrava em qualquer carro
e se permitia o gozo do sarro.
Quando leu "Bola de Sebo"
sentiu-se a heroína de placebo
e nunca mais disse: dessa água não bebo!
Com Amaro e outras camas gemeu,
no pouco mais tempo que viveu.
"Desonrado" e açulado, Amaro cedeu;
matou-a e bradou: ninguém come o que é meu!
Folhetim barato
da época do falso recato.
"Lavou sua honra" se dizia.
E ele ouvia, incerto se deveria
chorar a saudade de uma "vadia".
Mas passou o Tempo.
Não a hipocrisia.
Ainda se mata como naquele dia.
À tirania só o sofrimento sacia.
Fere-se a da Penha
por não ser a Virgem Maria.