EULANA E ALBINO

Eulana, morena, cabelos de Iemanjá, toda natural, com um dente superposto tipo bruxinha, pernas tortas estilo Garrincha, quartuda, coxuda, meio peituda.

Vivia falando de amor, de paixão, de loucura por um príncipe que pensei ser produto da imaginação da colega ginasiana.

Todos os dias Eulana falava dele e quando falava parecia estar em outro planeta. Os olhos de Eulana se enchiam de estrelas, a boca se enchia de volúpia.

Aquilo me dava uma aflição que virou curiosidade.

Todos os dias também me convidava para ir com ela até o escritório da usina onde o rapaz mais bonito do mundo, segundo Eulana, gerenciava a fortuna da família.

A insistência foi tanta que aceitei ir. Não sei mesmo porque, mas naquele dia me arrumei melhor, penteei o cabelo cuidadosamente, coisa que nunca apreciei fazer.

Já que era tão bonito, uma espécie de príncipe, talvez me preferisse à Eulana.

De vez em quando eu jogava um oceano na colega dizendo que Albino não a queria, que não aparecia para buscá-la à porta do colégio e ir com ela de mãos dadas e carregando seus livros, como faziam os namorados.

Eulana se garantia, afirmava: Ele me ama!

Já que é assim, vou com você amanhã.

Passei a noite mais ansiosa do que Eulana. De tanta propaganda, Albino já visitava meu complexo de Cinderela. Pensei em tomá-lo da amiga. Amiga? Onde arranjamos essa amizade? Nada de amiga, somos apenas colegas.

Fugimos da aula de Matemática e fomos em direção ao escritório da usina.

Entrei procurando adivinhar quem daqueles rapazes não muito interessantes fosse Albino. Devia estar lá dentro, fazendo algo especial.

Ele está é com a noiva, Eulana.

Noiva? Eu serei a noiva dele, nos casaremos e seremos muito felizes para sempre.

Boa tarde, disse Eulana a um rapaz magro, pálido, quase um defunto. Parecia um boneco de cera daquele famoso museu.

Boa tarde, eu disse distraída, pois me interessava era ver Albino.

Quando apertei a mão do rapaz senti como era fria, igual com a cara dele de morto. Até senti nojo. Olhava para o fundo do escritório pensando em Albino e achando uma perda de tempo ficar ali falando com aquele sujeito amarelo e calvo.

Vi Eulana quase ficando na cor e na temperatura da mão do rapaz apresentado.

Se vai desmaiar, problema dela. Deve estar naqueles dias.

Onde está Albino? Perguntei baixinho e ligeiro, antes que Eulana desmaiasse.

Muito prazer, eu sou Albino, disse o rapaz das mãos gélidas.

Quem quase desmaiou fui eu. Então era ele o belo príncipe?

Pouca ou nenhuma atenção Albino deu à Eulana.

Fomos recebidas com tanto desinteresse que logo a chamei de volta.

Eulana, Albino é horrível, amarelo, magro e feio. Dinheiro algum põe sal naquele morto.

Ele é lindo. Ele me ama. Eu o amo.

Teimosa Eulana.

Pouco tempo depois, Albino casou-se em festa pomposa e cheia de autoridades, com uma rica senhorita de família tradicional e burguesa.

Dizem as línguas de trapo que Albino dá uns pulos com algumas Eulanas tontas que acreditam em histórias de príncipes que se casam com moças pobres, sem eira nem beira, nem ramo de figueira.