Outono
OUTONO
Descíamos para a solidão do dia agarrados à pele dos enigmas
que nos consumia. Podíamos sentir a lâmina do vento
assim como quem escuta um rumor sinistro. Extenuados
pela dança das imagens, compreendemos que o lume dos
afectos já só habitava uma memória estranha e imprecisa.
Verdadeiramente: os lagos por onde passam rápidas as
sombras - onde a mágoa se extinguia no contracto cúmplice
dos ombros, lembras-te? - exprimem a litania ontológica
de uma viagem de náufragos. Descíamos ao encontro das pálpebras
líquidas: do dia. Por dentro da pele, pelo enigma das
imagens.