As Quatro Estações

“Primavera”

Oh! São tantos sons, tantas vidas,

Que nem sei para onde olhar!

Tudo tão perfeito, como em nossas mentes,

Deveria sempre ser!

Flores que nascem dentro do meu peito confirmam

Tudo o que meus olhos recusam-se em acreditar.

Será mesmo verdade?

Ou é só mais uma brincadeira da velha Ilusão?

Olhe através da matéria,

Confirme o que sente.

Aproveite cada dia desse mundo como se fosse o último.

Pois pode ser que esse fim chegue,

E pode ser que nada, afinal, reste verdadeiramente.

As formas nas nuvens,

Os pássaros e animais em perfeita harmonia...

Como num ciclo sem fim!

Corra, sinta a liberdade beijar-te!

Não tenha medo, seja um deles.

Finja como eles, haja como eles.

Tente levar algo de bom consigo,

Pois quem sabe um dia não encontrará alguém com quem partilhar?

Mesmo que essa idéia seja vaga,

Faça com que as flores da primavera te levam ao infinito.

Não deixe que uma lágrima sequer seja em vão...

Sangre, mate, seja e esteja.

Mas que viver seja a melhor opção,

E que o corte em teu pulso

Seja fruto de teu coração.

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“Verão”

Veja, mais uma vez,

Quão perfeito é o ciclo da vida.

Os anos passam, e tudo muda.

Mas mesmo assim, parece ser tão igual.

O sol aquece as almas gélidas,

Produtos de invernos passados.

Ele faz a vida renovar-se,

Trazendo a alegria antes esquecida dentro de nós.

É tão bom sentir seu calor intenso...

Como se pudesse atravessar o nosso interior,

Fazendo-nos sentir vivos e presentes,

Como em épocas passadas, que fomos capazes sem esforço algum.

As crianças brincando, as pessoas sorrindo...

Tudo parece tão irreal, falso.

Mas não é, são apenas brilhos intensos,

Pequenos raios de aquilo que chamamos de esperança.

Esperança essa que em épocas como esta

Veste nossos corpos nus,

Cansados de viver em vão,

Buscando sempre meias-verdades.

Esperança essa que parte em pedaços

Todos os iludidos que se vestem de seu manto.

Esperança essa que dá vida aos afogados,

Esperança essa que desabriga os vis sonhadores.

“Outono”

Abra meus olhos, faça-me enxergar!

O que foi isso que acabo de sentir?

Seria o início de todo o fim?

E como se quase por impulso, sim, é o início do fim.

Vejo todas as árvores morrendo agora,

Enquanto caminho sem rumo por uma rua vazia,

Antes habitada por calor e alegria!

Rua grande e bela, chamada “Esperança”.

Sinto que o calor está nos deixando mais uma vez e,

Olhando pro céu, é possível ver seu pálido tom de cinza,

Tomando forma novamente e engolindo o infinito azul.

É como em meus pesadelos, tudo está ruindo agora.

Procuro onde ou com quem me esconder...

Mas há algum lugar pra ir?

Há algum lugar pra onde fugir?

Não, não há mais nada, tudo está sendo esquecido.

E os Ventos, imponentes ventos de verão, onde estarão?

Certamente esqueceram-se junto às nossas memórias perdidas,

Levando embora tudo aquilo que tínhamos por nosso,

Tudo aquilo que nos alimentava.

E o amor? Onde estará?

Fora esquecido, eu diria...

Deixado para trás como se fosse uma folha seca...

Como se fosse parte de nossos corações.

“Inverno”

Já não sinto mais nada.

Está um silêncio tão frio lá fora...

Ouço apenas o som dos cortantes ventos de inverno,

Batendo na janela do corpo que outrora fora vivo.

E as vozes, os risos, alegrias, onde estarão?

Foram congeladas dentro de mim,

Assim como tudo que havia deixado para trás.

E esse fardo pesado que carrego não se compara a nada que eu já tenha levado.

O tempo, até o tempo...

Parece ter sido esquecido nesse deserto branco.

Como se estivesse para sempre parado,

Deixando o infinito congelante tomar conta de todos nós.

E agora é o Céu...

Senhor de tudo que é e já foi nosso.

Através da neve que deriva de sua vastidão,

Posso ver lágrimas de tristeza, transformando tudo ao redor.

E realmente já não resta mais nada.

Já não nos restam mais forças,

Ou quaisquer vestígios dela,

Já não há mais nada.

E se as estrelas começassem a cair?

Diga-me, pra onde iríamos fugir?

Não iríamos, pois não há razões pra isso.

Elas fugiriam do irreversível vazio que nos tornamos.